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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Eu e meu coração



Tudo mudou
Esta tudo tão diferente,
Eu,você
Aquela história e o sonho de viver pra sempre.
Nem sempre foi assim,
Lembro do dia que te conheci
Tudo tão calmo tão normal
E aconteceu ao natural.
Era tão confuso,
Infantil, gentil
Mas e agora o que aconteceu? Nada mais importa do que se viveu
Não da pra prestar atenção numa simples recordação
Não esqueça do passado, o futuro vem ai
Só não se esqueça de mim.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

11 horas

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Ela lhe sorriu. Fazia dias que não se sentia tão feliz. Ele lhe beijou a ponta do nariz e se levantou. "Preciso ir" ele disse. "Quando você volta?" perguntou sorridente.  "Não sei".  E ele saiu pela porta. A fechou. Mas ela não vira o par de malas do lado de fora do quarto. Não vira que ele pegava uma rosa e a beijava. Um cartão em suas mãos. Um último adeus?

A partir daquela noite em que ele se fora, depois de mais de dois anos de namoro, ela se mantinha desolada. Ele partira há duas semanas e tudo se mantinha estranho. O seu lugar na cama era apalpado toda manhã, quando ela acordava e o procurava instintivamente. O cheiro no seu travesseiro permanecia ali. Ele estava ali e em todos os lugares. Principalmente agora. Olhava pela janela. A companhia da filha. Beijou-lhe os cabelos negros onde havia uma faixa mimosa levemente decorada com flores. “Nove meses faz hoje que ele foi embora” disse em um suspiro olhando a filha. Agora teria com quem conversar, passar os dias, as horas, as emoções. E o tempo passou. Todos os dias tinha seus afazeres.

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Colocava a água a ferver, a filha no carrinho e se via cortando legumes ou preparando a salada. E então acontecia. O relógio-cuco, dado pela mãe e passado de geração em geração, dava suas onze badaladas, a água fervia e Anita chorava. Atordoava-se com o desespero da filha, o relógio que não se calava e a chaleira que apitava. Saia correndo, desligando o fogão e segurando a filha, agora com dois meses, nos braços. E todos os dias eram iguais.

Até aquele.

Faltando um mês para completar um ano da partida dele, eram 11 horas da manhã e a chaleira apitou, o relógio soava, a filha chorava, o telefone tocou e a campainha fazia seu majestoso dim-dom.

Desesperou-se.

Desligou o fogão, correu para a filha, gritou um “já vou” e atendeu ao telefone que se manteve mudo. Acalmou a filha até chegar a porta e a abriu. Não havia ninguém. Virou-se, já fechando a entrada da casa quando se deparou com aquela rosa no chão. Vermelha como sangue. Vermelha cor de amor. E um bilhete. 

Você me perdoaria?”. 

A caligrafia bem feita, o perfume dele na rosa. Abraçou a filha lhe beijando o rosto redondo. Não adiantava procurá-lo, ele nunca estava ali. Já tentara vê-lo das outras vezes em que as rosas chegavam, mas era impossível, nunca havia alguém ao seu alcance de visão.

E passava a ser assim todos os dias.

O relógio badalava, a chaleira apitava, Anita chorava, o telefone tocava, a campainha soava e o relógio badalava, a chaleira apitava, Anita chorava, o telefone tocava, a campainha soava... Até que naquele dia ameno de verão, depois de um mês recebendo flores pela manhã, a chaleira apitou mais cedo, Anita já havia chorado, o telefone já havia tocado e então o relógio-cuco soou. A campainha tocou. Abriu a porta pronta a se deliciar com o perfume da rosa, mais um bilhete dele. Amparou-se na porta ao vê-lo ali, a rosa na mão o olhar sincero. 

“Você me perdoou?”
E então estavam ali, a areia massageavam seus pés, Anita, agora com quatro anos de idade dormindo nos braços dele, a cabeça em seu pescoço e ela com Ariel, seu pequeno menino de olhos de prato. Estavam juntos novamente. Ele me explicou os motivos de sua partida, a confusão que se formava em sua cabeça, o quanto sofrera pela distância e ela o perdoara. Então, agora estavam ali, num dia morno de verão, o sol se pondo ao lado deles, a areia em baixo dos seus pés, a mão dele segurou a dela. 

“Eu te amo” sussurrou, apertando-lhe a mão.
“Eu também”.

E nada mais foi dito, não era preciso, não era necessário. Um sorriso brotou em seus lábios e agora tudo estava bem.

domingo, 5 de setembro de 2010

Quando se começa a aprender

Hoje era um dia típicamente chuvoso. Não que eu odeie chuva, mas ela não me agrada na maioria das vezes. Era um dia desses em que o sol parece querer se esconder. Quieto. Sorrateiro. Sorri comigo mesma ao despertar. Já era tarde, não devia mais estar na cama. Mas ao sentir o gostoso aconchego que me dava o travesseiro e meus lençois, sorri decidindo repousar ali por mais alguns minutinhos. Eu não tinha mais tempo. Eu não tenho mais tempo. Eu sorri. Tudo passava tão rapidamente agora. E ao mesmo tempo, tão lento. Devagar, pensei, vamos com calma que o dia é longo e apartir de agora não serás tu quem foi ontem. Afinal, nunca somos iguais todos os dias. Aprendemos cada dia com tudo o que nos cerca. Seja pelo convívio, pelos ensinamentos, pela vivência. Sorri. Levantei de minha cama e mirei o espelho. Cabelos desgrenhados. Olhos inchados de dormir. Mas tudo era tão sereno, tão calmo. Sorri. É, começava um novo dia ali.

... Aprendi e desaprendi a viver uma centena de vezes... Talvez ali esteja o passo que faltava para chegar ao cume da montanha, a nota que justifica a sinfonia inteira, a letra que resume o livro. Passo por um período de euforia, que aos poucos vai desaparecendo. Algumas coisas ficam para sempre, mas a maioria dos exercícios, das práticas, dos ensinamentos termina por desaparecer em um buraco negro. Ou, pelo menos, assim parece.”
Paulo Coelho, O Aleph.