“Trair não significa o perjúrio da vida, Maria! Toma-te forma! Desenha teu ser! É pecadora e não podes negar!”
“Pare! Pare! Atordoa-me o céu da boca e os ouvidos berram tuas palavras em minha mente! És prontificado o batismo da carne ao nascer e me tens aqui, agora, alma em chamas, corpo em pecado! Tomas forma tua dor e deixa fluir o teu rubor! Sabes que pequei e faz-me condenar por isso!”
“Tua alma grita injúrias contra o teu próprio ego! Deixastes te levar pela própria armadilha dos que amam!”
“Mas eu te amo!”
“Amas a teu corpo e o desejo que provocas! Amas tua face no espelho e teu corpo refletido nas águas claras do teu banho! És pecadora por amar-te acima da verdade e da justiça. És tu, Maria, alma em pecado, cabeça em juízo. Morreras porque assim eu quis. Morreras pois só assim terás tua redenção eterna. Entrega-te com o laço sucinto do esplendor. Lança-te as chamas! És pecadora, tu sabes!”
“Que dizes com isso?”
“Quero que me mates enquanto te amo. Torna isso verdade! Torna isso verdade e terás minha alma liberta! És o último pedido há um ente apaixonado!”
“Trovejam céus e terras que se te amar não te matarei! Onde estará a redenção? Onde multiplicará teus sonhos e ganharão tuas glórias? Qual de vossas escolhas tornará plausível teu véu?”
“Se me amas, mata-me enquanto te amo! Se queres minha redenção, condena a tua! Sabes o pecado que nos rege! E mata teu filho! Deixa que eu o leve para a eternidade e sempre o bajular de um berço vazio! Vamos! Atiça tua espada em braça, saca-me as barreiras! Ama-me! Deixa-me sentir amada uma vez mais e parta-me em dois, três pedaços! Entorta tua espada em meu ventre e deixa que eu leve também o filho do pecado que tornou-se nosso amor!”
E em uma última tentativa de redenção, enfiou-lhe a espada no ventre, arrebentando-lhe as barreiras.
“Mais uma vez amar-te-ei e conviverás com a pena de matar teu único filho, desgraçado! Morrerás culpado com a criança que matas agora! Levará para tua cama todas as noites o choro da criança! Remexerás em teu túmulo a busca de uma salvação!”
E vendo-a fechar os olhos, cruzou a mesma espada suja de sangue em sua própria barriga, partindo a maldição, indo então, em calma e salvação, viver na eternidade com seu amor.
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