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domingo, 19 de junho de 2011

Cigano


Traiçoeiro, inquisidor.
Gracioso, domador.
Tentador.
Boêmio, astuto, velhaco, trapaceiro.
Dançavas como um demônio sobre os palcos em que pisava, seus olhos tão profundos chamavam a atenção.
Foi assim que um dia o conheci.
Galanteador, sorriu. Desatenção. Não era possível prestar mais atenção no que havia perto de mim. Seus olhos. Puxou-me. Guiou-me. Dançamos. Concentração. Um, dois, respire. Dois passos para trás e sua mão descia pelas costas, ajeitando-se, acalentando-se, satisfazendo-se. Direita, esquerda. Olhou para mim. Esquerda, direita. Olhos de raposa, olhos de urso, de tigre. Colou seu rosto ao meu. Olhos. Profundos. Abismo. Poderia, quem sabe, me perder ali. Controle. Um. Dois. Girar. Cruzar. Virar. E seus olhos comandavam-me, assim como suas mãos guiavam o passo lento do tango melodioso que tocava ao fundo. Três, quatro. Respirar. Dobrar. Cruzar. Perder-me. Voltar. Realizar. Passo. Passo. Cruza. Parar. Girar, voltar, saltar. Seduzir. Sedução. Guiar. Olhar. Abraçar. Quarto. Cama. Colchão. Dançar. Amar. Seus olhos nos meus mais uma vez. Um. Dois. Respirar. Segurei sua mão na minha, seus dedos nos meus. Girar, dobrar, saltar. Roupas. Cair. Três. Quatro. Olhar. Cair uma vez mais. Abismo. Desejo, amor, paixão. Mãos. Dançar. Cruzar. Esquerda, direita. Coração. Olhos. Girar. E mais uma vez não estava mais em seus braços. E assim como um dia nos conhecemos, enquanto dançava sobre os palcos demoníacos do submundo, hemos de nos separar nas graças eternas de meu pranto e de sua dança que nunca mais terei. E assim como chegou em minha alma, Cigano velho, irás de meu coração com o amor eterno.

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