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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Lar


Incapacitado de sorrir, o menino fez os olhos brilharem. Era sua máscara para a dor que deveria sentir. Cansado de tanto sofrer, havia saído de casa na calada da noite e, escondido entre os arbustos das casas vizinhas, saíra do alcance de conhecidos que poderiam levá-lo para casa novamente. Sorriu mais uma vez, com os olhos, é claro. Na mochila levava apenas as coisas que lhe lembravam do prazer de estar em casa: a foto do cachorrinho Billy, um retrato da família de quando ele era menor, o desenho da estrela que o irmão havia feito e o boneco de pano que tanto adorava e, é claro, alguns pacotes de biscoitos e o cofre de porquinho que guardava suas moedinhas calmamente. Enquanto caminhava pelas estradas no meio da noite, observou que as estrelas mudavam de lugar tranquilamente, a lua parecia lhe sorrir. É, havia escolhido um bom dia para sair de casa. O menino parou. Olhou um homem dormindo jogado em um canto da calçada. “Não durma no chão, moço, você pode se resfriar!”, mamãe sempre lhe dizia que se deitasse no chão, ficaria gripado. O homem lhe sorriu, “hei menino, onde está sua mãe?” “Em casa, é claro, dormindo” “fazes o que aqui, então?” “estou procurando um futuro melhor, moço. Fugi de casa. Sai agorinha mesmo” “O que procura em teu futuro?” “algo como meu irmão não me incomodando, meu pai não brigando comigo e minha mãe não me obrigando a tomar banho”. Dito isso o menino fez uma cara de desgosto e o homem, que agora, sentado, observava o garoto, começou a rir. “Você já pensou, menino, o que vai te acontecer agora que está longe dos teus pais? Pensou em quem vai te dar um beijo de boa noite? Para que cama fugirás ao sentir medo na noite de tempestade? Quem vai preparar teu café da manhã com leite morno e pão aquecido? E, a final de contas, pensou em quem vai te dar amor e carinho todos os dias?”. O menino parou pensando em tudo que o homem lhe dissera. Havia chegado a uma conclusão. Abraçou o homem que lhe aconselhara. “Obrigado”, ele disse virando as costas e indo para casa. Não, não há nada melhor que o nosso próprio lar.

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