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sábado, 19 de março de 2011

Otherwise


Capítulo 5

Como sempre acontecia depois que a conheci, nossos papéis inverteram-se e o primeiro a chegar à igreja de nós dois foi ela quem esperou no carro até que eu pudesse entrar na igreja para esperá-la. Subi ao altar com as mãos tremulas. A marcha nupcial tocou anunciando a entrada de Marie. Primeiro Gabrielle e Artur, sobrinhos dela, adentraram o lugar espalhando as pétalas de rosas que enfeitaram o chão, logo atrás, nitidamente calma, sozinha e segurando um lindo buquê de gérberas amarelas, entrava Marie. Sorrindo como um anjo, ela arrastava o lindo vestido branco prometido a minhas mãos para sempre.  Vi em seus olhos um brilho diferente e descobri ali que dentro de mim algo novo acontecia. Era uma emoção diferente, contraditória, alucinante. Era o oposto do impossível, versificado em decassílabos de eternidade. Era o amanhecer em uma noite escura, o crepúsculo em uma manhã ensolarada. Era o contraste entre o branco e o negro, luz e escuridão. Era o valsar das pétalas na brisa ao amanhecer. O soar dos sinos dos anjos imersos em um turbilhão de sons. Era voar em um balão sem data e lugar para pousar. E eu podia subir aos céus só de vê-la sorrir mais uma vez. Segurei sua mão entre as minhas e lhe beijei os dedos da maneira que eu sabia que lhe fazia sorrir. Trocamos alianças e assinamos os papéis, saindo de lá aplaudidos por nossos amigos e familiares. Tornamos-nos um casal imensamente feliz. Completávamos-nos perfeitamente, um quebra-cabeças sem defeitos e dificuldades. O espelho um do outro.

-Você esta diferente.

E lhe sorri. Haviam-se passado dois anos e meio desde que havíamos casado.

-Eu sei e desconfio de algo.
-Você acha?
-Precisamos fazer um exame, mas sim, acho que estou grávida.

Ela disse tão sem emoção alguma que desconfiei se estivesse realmente feliz com a notícia. Descobri em seu olhar, logo em seguida, que aquilo era medo de um futuro incerto, do cuidar de uma vida e torná-la alguém de bem. Fizemos o exame. Em uma semana estaria pronto.

-Eu tenho uma reunião Cassi, acho que vou demorar pra chegar amor.
-Tudo bem, mas tente vir logo, sim? Tenho que te contar algo.
-Tudo bem, eu tentarei. Beijos, te amo.
-Eu também.

Havia preparado-lhe um belo jantar, o exame estava sobre a mesinha de centro e um sorriso bobo brincava em meu rosto. Fiz seu prato preferido, coloquei um cd de musicas lentas que ela tanto gostava e abri a janela da varanda para que a brisa da noite e a luz da linda lua cheia nos contemplasse. Esperei-a por mais de duas horas até que me deitei sobre o sofá, liguei a televisão e fiquei passando os canais até que um filme me chamou a atenção. Peguei os pequenos sapatinhos feitos a mão com os cardaços de fitinhas de cetim e os observei. Tínhamos que planejar o quarto, comprar roupas, carrinhos, mamadeiras, cadeirinhas. Estava tão feliz com a notícia de que teríamos um filho que acabei adormecendo.

-Cassi?!

Escutei-a chamando-me. Abri os olhos ainda sonolento e mirei o relógio que marcavam mais de onze horas.

-Você esta bem?

Vi-a aproximar-se de mim. Largou sua pasta sobre uma poltrona e sentou-se ao meu lado. Sorri-lhe.

-Parabéns mamãe.

Disse lhe entregando os alvos sapatinhos.

-Sempre você, não é?!

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