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terça-feira, 8 de março de 2011

Laís


Era hora de nascer. Desde que soubemos de sua existência, sorriamos abertamente ao ver sua barriga crescer. Éramos melhores amigas e desde sempre prometemos uma a outra que nossos filhos teriam como madrinha uma a outra.  Fora um parto complicado e desde o início sabíamos que a partir do momento em que nascera, o pequenos bebê teria seus dias contados. A parteira anunciou sua vinda e um choro fino tomou conta do quarto.
-Laís.
-Laís?
-Eu quero que se chame Laís.
Bochechuda e de grandes olhos escuros, a menina veio para meus braços envolta em panos claros. Júlia sorriu ao ver a filha e em um minuto fechou os olhos. Estava anunciada a sua partida e quando a menina em meus braços chorou tive a certeza de que nunca mais veria Júlia sorrir assim como quando viu a filha pela primeira e última vez.
-Não há mais o que fazer.
Anunciou a parteira cobrindo a mulher a sua frente. Chorando fomos, Laís e eu, a última despedida de sua mãe. A partir de agora teria eu as responsabilidades de uma mãe. Com dezenove anos, um bebê nos braços, uma mochila nas costas e uma mala nas mãos trilhei o caminho até a casa de meus pais, a final, naquele imenso apartamento que dividia com Júlia ia ser difícil criar uma criança sozinha. Acolhida e compreendida sorri ao ser recebida por meus pais que se encantaram com a harmonia e tranquilidade que Laís passava. Minha menina tinha os dias contados e conforme o tempo passava, aproveitava-me cada vez mais de sua companhia. Á noite deixava Laís com meus pais para estudar e voltava correndo da faculdade para poder aproveitar alguns minutos de brincadeira com ela. Era lindo o seu olhar de menina sapeca e sorriso igual ao da mãe. Agora ali, brincando com Laís, pareceu-me que Júlia me sorria ao dizer que alguém crescia dentro dela e que teríamos alguém para amar juntas, alguém para nos fazer companhia, para que nos juntasse ainda mais. Teríamos Laís como o centro de nosso universo. Júlia se fora e eu sabia que Laís iria também. Coloquei-lhe a mamadeira sobre os lábios vendo como a menina sugava aquele leite lentamente, aproveitando-se do doce gosto do líquido e do grande amor que dava a ela.
-Mamãe!
Chamou-me quando entrei novamente em casa. Laís estava grande já. Era incrível como minha menina havia crescido rapidamente. Com dois anos eu já sabia que não havia solução, cirurgia ou tratamento para seu pequeno problema. Enquanto ela crescia, escapava-me entre os dedos as chances de que vivesse até eu mesma morrer e para que então talvez pudéssemos partir juntas para o além. Aconcheguei-a em meus braços enquanto ela sorria dando-me beijinhos gostosos pelo rosto. Assim como todos os dias ninei-a até que dormisse e mal sabia eu que era a ultima vez que a ouvia chamar-me assim. Enquanto carregava-a até o quarto a vi suspirar e lentamente senti que minhas lágrimas começavam a brotar.
-Mãe!
Eu gritei sem saber o que fazer mais. Eu sabia, não havia mais solução, minha pequena havia se juntado a sua mãe verdadeira e eu ficava ali para poder ver meus próprios filhos crescerem enquanto a lembrança daquele dia em que vi Laís pela primeira vez retornava a minha mente com a mesma frequência que meu coração batia.



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